TEM COISAS QUE SÓ SAEM DA GENTE POR ESCRITO!

A terapia é um lugar muito importante, o acesso a fala, a liberdade do que se diz e a construção de um espaço livre de julgamentos é fascinante, só quem já usufruiu deste beneficio sabe como é o meet terapêutico.

Mas, de todos os benefícios da vida terapêutica, com a vida de terapeuta, mantenho a minha fala mais importante.

A escrita me salva todos os dias.

A nossa construção enquanto mulheres negras que é atravessada por diversas violências, não estou imune desta consequência, acarreta um lugar que muitas vezes a fala tem proibições de acessar.

Certa vez ouvi de uma paciente que se ela não disser, é como se não tivesse acontecido, então não precisaria lidar.

A gente segura as coisas, as dores, os machucados, as cicatrizes, melhor, os cactos sem conseguir se autorizar a dizer, por saber que quando se fala, a consciência nos colocará em contato com uma emoção que talvez não estejamos preparados para lidar, ou até mesmo seja tão grande e intensa quanto primitiva.

Se eu não escrevesse, ai de mim se eu não escrevesse...

Tem coisas que só saem da gente por escrito, e as minhas maiores autorizações pra falar, sentir, lidar e ressignificar as emoções vieram da escrita.

Se um dia, que ele nunca chegue... Se um dia eu não quiser mais ser psicóloga, nunca poderei parar de escrever. Porem ser uma psicóloga/ escritora me coloca no esforço diário de cuidar das minhas cicatrizes e feridas. Aprendo e desenvolvo balsamos que com afeto me dedico a aplicar em outras mulheres.

A escrita que me reflete hoje é de TENORIO, J (p.45) "Você, minha filha, tem obrigação de chorar. ...Vocês filhas de Oxum, choram, porque é o pranto de vocês que conserta o mundo."

Bom, que minhas escritas em pranto continuem a seguir o exemplo da minha grande mãe, consertando meu mundo, pra que eu produza ferramentas que auxiliem no processo de consertar o mundo dos outros a minha volta.

Escrevo, porque por gosto, por querer, por viver e como diz minha mais velha Conceição Evaristo, para escreviver. A caneta banhada a lagrimas é minha armadura de resistência.